No período do ano que representa a alta temporada de turismo no Estado, estudos do IPEA indicam redução no número de visitantes no RN – espiral de decadência que se iniciou em 2007
Um estudo encomendado pelo Ministério do Turismo à Fundação Carlos Chagas (FGV) recentemente divulgado pela mídia local, tem despertado algumas discussões acerca da falta de planejamento e investimentos para reaquecer a atividade turística no Rio Grande do Norte. Os índices apontam uma queda de 60,4% do número de visitantes estrangeiros no RN, onde o setor concentra cerca de 4% dos empregos formais.
O RN já sofria com diminuição anual no índice de turistas estrangeiros desde 2006. A crise econômica mundial de 2008 é apontada como o principal contribuinte. Devido à queda do dólar e a conseqüente supervalorização do real, destinos no exterior se mostraram mais favoráveis para aqueles que buscavam melhores incentivos fiscais, como as praias caribenhas. Além do favorecimento econômico e climático, o Caribe se mostrou como um caso de sucesso na questão do marketing e de divulgação na mídia internacional, que trabalha a imagem da região como terras paradisíacas e altamente convidativas.
A falta de divulgação do RN como destino turístico tem sido um dos principais fatores que vem impedindo Natal voltar a ser um dos destinos mais cobiçados do litoral brasileiro. Enrico Fermi, presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH), em entrevista ao jornal Tribuna do Norte, afirmou que o governo deve investir em ações promocionais em pólos emissivos, principalmente os nacionais. “Devemos investir em publicidade nos principais pólos emissores nacionais e realizar eventos, empregando esforços junto ao Natal Convention & Visitors Bureau para auxiliar na captação desses, além de priorizar espaço maior para eventos do que o já existente ou verificar a possibilidade de ampliar o centro de convenções” destacou.
Festas do interior
Apesar da falta de investimentos por parte dos órgãos responsáveis, o RN cada vez mais vem mostrando seu potencial turístico. Grandes exemplos disso são as tradicionais festas do interior do estado. A festa de Santana de Caicó, sucesso de público, tornou-se patrimônio cultural imaterial do Brasil. Em Mossoró, o são João e o espetáculo “chuva de bala” ganharam destaque nacional como um dos principais festejos juninos do país. E também a cidade serrana de Martins, que possui o maior Festival gastronômico de Rua do Brasil.
É curioso, porém, como outros estados do Nordeste não sofreram os efeitos da crise em tamanhas proporções. Estados como o Ceará e Pernambuco, por exemplo, que possuem uma economia mais diversificada apesar da tradição turística, apresentaram uma redução que não ultrapassou os 15%. Cabe lembrar que o Ceará mostrou nos últimos anos um grande crescimento na economia, além de ter entrado na disputa para se tornar um dos portos de entrada de estrangeiros no Brasil, competindo com Rio de Janeiro e São Paulo.
No caso do Ceará, mais uma característica o diferencia. A Secretaria de Turismo possui autonomia orçamentária para investir em programas de reestruturação das linhas de transporte e atividades culturais. São 1,3 bilhões direcionados somente para a construção de estruturas que garantam a Copa do Mundo em 2014 e que funcionarão como garantia de um bom fluxo turístico no estado.
Roteiros
Além dos fatores macroeconômicos, outros problemas são apontados como coadjuvantes nessa crise do setor. A falta de incentivos para criação de novos roteiros turísticos que vão além das praias de Ponta Negra e Pipa também servem como exemplo.
Não seria o momento para repensar a imagem da cidade e do estado na mídia nacional? Mudar o foco do turismo praieiro, já um tanto defasado, e investir em outras áreas. Ações como o remanejamento das atividades culturais para outros pontos da capital, através da revitalização de centros que promovam a cultura popular, como a Ribeira; além de estimular o ecoturismo e o turismo religioso.
Em Natal, o bairro cultural Ribeira voltou a ganhar destaque na mídia local. Os empresários voltaram a investir, e as pessoas, a freqüentar. Ações independentes que promovem a cultura popular como o “Circuito Cultural Ribeira”, o processo de revitalização da Rua Chile e a criação e reinauguração de novas casas noturnas também fazem do bairro uma promessa para a promoção do turismo potiguar.
A copa redentora
Segundo dados da FGV, cerca de 600 mil turistas visitarão o Brasil durante a copa do mundo, dos quais 84.979 passarão pelo RN. O evento irá gerar 30% em oportunidades de emprego, das quais 356 serão voltadas apenas pelo setor de comércio e serviço. As demais estarão distribuídas em construção civil, varejo e turismo.
A Secretaria de Turismo do Estado parece creditar o evento a capacidade de ser o redentor desta crise que se instala no setor. Mas não podemos repensar uma indústria e parcela da economia direcionada totalmente a um evento que durará apenas 15 dias. Apesar dos legados em infraestrutura, é preciso pensar numa nova campanha de promoção e divulgação da capital, enquanto destino turístico.
Este mês, através de uma parceria entre a Empresa Potiguar de Promoção Turística (Emproturn) e a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), foram realizadas ações de divulgação da cidade como destino turístico. A realização de workshops e palestras para mostrar o RN como destino diferenciado, é uma tentativa de organizar pacotes promocionais que incentivem a adesão de turistas durante a baixa temporada.
Uma das principais dificuldades está em modificar a imagem do turismo na mídia nacional, já relacionada ao turismo sexual, em reportagens de grande repercussão como a divulgada este ano pelo programa Fantástico, da Rede Globo.
Esse é reflexo das ações dos órgãos responsáveis, que não tem dado a devida importância a um setor que movimenta a economia potiguar e garante a renda de várias famílias norteriograndenses. As ações em prol do turismo precisam repensadas com a maior urgência. O setor é importante para o Estado. Os operadores do turismo sabem disso e o Governo do Estado também. Mãos a obra.
Com reportagem de Larissa Moura e Nadjara Martins / Ecoar
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